"Excertos do Meu Diário (sobre tempo e a quarentena)"

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Hoje é domingo e estou neste momento no parque ao pé de casa. Está um lindo dia de primavera, solarengo, com uma leve brisa Dublineira, tão verde quanto o verde pode ser. Os passarinhos estão a cantar, as crianças estão a brincar e há inúmeras pessoas que, como nós, vieram em busca dos raios de sol.

Desde que tudo isto começou (há quase dois meses) toda a gente só quer que isto “acabe rápido” e que “é um dia a menos de quarentena”, mas um dia a menos de vida também. Eu quero o contrário constantemente: dou por mim a querer que o tempo tenha um pouco de misericórdia e nos dê um descanso. Que passe um bocadinho mais devagar. Andamos sempre a correr — com prazos, com tarefas, com obrigações — e não nos lembramos de apreciar cada momento com que somos presenteados.

"tem me deixado ansiosa por sentir que nunca terei tanto tempo quanto agora, mas que agora não tenho tempo suficiente."

Esta quarentena tem sido estranha para mim: tem me feito mais paciente, mais tolerante, mas tem me deixado também ansiosa por sentir que nunca terei tanto tempo quanto agora, mas que agora não tenho tempo suficiente.

Tenho 26 anos. Quero viver e fazer tantas coisas. Não quero desperdiçar o meu tempo a querer que ele passe a correr. Estou agradecida por estar aqui hoje, a sentir o sol na minha pele, a sentir a brisa nos meus cabelos, a ouvir a canção dos pássaros. Quero ficar mais tempo neste momento que me obrigou a parar. Quero ter mais momentos, e ficar presa neles mais tempo. Há que aceitar os limões que a vida nos dá, e em vez de fazer limonada como toda a gente, fazer antes uma bela caipirinha.

Publicado no dia 22/10/2020 por Gabriela Pinheiro